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Estudos - 31/01/2018

Iede Pauta nº3: baixas expectativas e necessidade de formação dos professores


Professores atribuem a fatores externos a si e à escola os problemas de aprendizagem dos alunos

  • O Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) analisou dados dos questionários da Prova Brasil 2015 e da Teaching and Learning International Survey (TALIS) 2013, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
  • Nos questionários da Prova Brasil, 262.417  professores responderam sobre as razões para as dificuldades de aprendizagem dos alunos.
  • Eles atribuíram a itens externos a si e à escola (meio social, nível cultural e falta de apoio dos pais, etc) os maus resultados dos estudantes. Para 94% dos docentes, por exemplo, problemas de aprendizagem do aluno ocorrem devido à falta de assistência e acompanhamento dos pais na vida escolar dele.
  • Já os fatores relacionados a eles próprios, à escola e à gestão impactam menos, na percepção dos educadores. Somente 17% dos respondentes concordaram que carência ou ineficiência da supervisão, coordenação e orientação pedagógica tem relação com a dificuldade de aprendizagem dos alunos.

Por que isso ocorre?

  • Segundo especialistas, isso acontece pela percepção dos professores de baixa autoeficácia e também por haver pouca profissionalização da carreira em relação à clareza de responsabilidades e adequação das condições de trabalho.
  • Por outro lado, embora os educadores não atribuam a si as dificuldades de aprendizagem dos alunos, eles reconhecem que precisam de mais formação. É isso o que mostram os dados da TALIS 2013.
  • Na TALIS 2013, professores do ensino fundamental II responderam sobre o quanto consideram que precisam de desenvolvimento em 14 áreas ligadas à docência.
  • Em 4 delas, os professores do Brasil aparecem em 1º lugar, com os maiores percentuais de que precisam muito (high level of need) se desenvolver.

Veja na apresentação a seguir os principais dados sobre baixa expectativa e necessidade de formação dos professores:

 

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Que leitura podemos fazer desses dados?

 

Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Itaú Social

“Ao olhar os dados dos questionários da Prova Brasil, vê-se uma tendência de culpabilização das famílias, do nível social e nível de escolaridade dos pais como responsáveis pela dificuldade de desempenho do aluno. Por trás disso, há uma questão mais estruturante que é a percepção do professor de baixa autoeficácia. Contrariando evidências, ele não se vê como alguém com grande impacto na aprendizagem. E o professor é o ator que mais impacta e tem um potencial imenso de redução de desigualdades.”

Ensinar não é tarefa simples, é algo super complexo. E como é a formação do professor para isso? Quanto apoio ele tem de seus gestores? Como é a colaboração com os pares? Todos esses fatores influenciam na percepção dele sobre seu próprio papel, sua autoeficácia, e reforçam a tendência de que fatores externos são mais fortes e importantes que ele.

Os 3 primeiros itens da TALIS  (em que os professores brasileiros aparecem em 1º lugar) dialogam com a questão da didática. O 4º, de gestão escolar, pode estar ligado ao fato de que diretores também são professores, e é um grande desafio sair da sala de aula e assumir a gestão.

Percebe-se que os professores têm uma demanda grande de formação e é preciso que as universidades olhem para isso. As experiências internacionais que mais dão resultado são aquelas que envolvem formação em serviço e tutorias, práticas ainda pouco comuns no Brasil.”

 

Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM Brasil. Foi professora de história por mais de 20 anos, presidente da Undime e secretária de Educação Básica do MEC

“Esses dados são muito sérios porque nos colocam cada vez mais longe da solução do problema. Percebe-se a não profissionalização do professor. Quando ele não se reconhece como um profissional que faz a diferença, joga a responsabilidade na família, no aluno, na pobreza… A baixa profissionalização faz com que o professor se veja como um profissional de 2ª categoria, e não como uma pessoa que têm domínio do projeto pedagógico, do currículo, e pode fazer muita diferença.

Na TALIS, o Brasil aparece em 1º lugar em itens que evidenciam a dificuldade com o novo (ensinar aluno com deficiência, multiculturalismo, novas tecnologias…). Quanto mais frágil é a formação, maior a dificuldade de lidar com o novo e enfrentar desafios.”

 

Fábio Augusto Machado, professor na EMEF Marili Dias e um dos educadors Nota 10 de 2016

“Esses resultados nos apontam para uma direção preocupante porque se o professor não pode fazer muito para impactar na aprendizagem de seus alunos não damos o direcionamento que podemos para reverter o quadro. A gente leva tanta ‘pancada’ que fica na defensiva. É difícil para o professor fazer a mea-culpa e, então, ele acaba externalizando a responsabilidade.”

 

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Quer saber mais? Baixe aqui tabelas com dados complementares sobre a necessidade de desenvolvimento dos professores em 34 países e regiões, segundo a TALIS 2013
O Iede Pauta nº3 embasou a reportagem do Nexo: “Professores atribuem fracasso de aluno à origem social. O que isso indica”