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Esta página traz livretos, análises e artigos sobre o desempenho dos estudantes brasileiros no Saeb, no Ideb, no Pisa e no Pirls, além de dados do Indicador de Permanência Escolar, criado pelo Iede para mensurar o total de crianças e jovens que abandonam a escola sem ter concluído a Educação Básica.

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Estudos - 21/02/2018

Resolução colaborativa de problemas: alunos com bom desempenho têm pais mais participativos e nível socioeconômico maior

Já alunos com baixo desempenho sentem-se mais sozinhos na escola, repetiram de ano mais vezes e quatro a cada cinco não têm expectativa de concluir o ensino superior

O estudo do Iede “Um Panorama sobre Resolução Colaborativa de Problemas no Brasil”, feito com base nos microdados do Pisa 2015, apontou diferenças e semelhanças entre o perfil dos alunos com alto e baixo desempenho.  Eles compartilham da preferência por trabalhar em equipe em vez de sozinhos e gostam de cooperar com os colegas. Porém, diferem em tantos outros itens, como nível socioeconômico, apoio e incentivo que recebem dos pais, e até mesmo em relação à expectativa que depositam neles próprios sobre o futuro acadêmico. Veja a seguir as principais diferenças e semelhanças entre eles.

Alunos de bom desempenho “concordam fortemente” que querem ser os melhores no que fazem

Em todos os níveis, a maioria esmagadora dos alunos, mais de 90%, disse que quer ter notas altas na escola. Eles concordaram ou concordaram fortemente com a afirmação “eu quero notas altas na maioria ou em todas as disciplinas”.

No entanto, há uma diferença significativa quando observados apenas aqueles que concordaram fortemente com a afirmação: entre os alunos com nível 1 em resolução colaborativa de problemas, foram 37,9%; já para os alunos que estão nos níveis 3 ou 4, 67,4%. O percentual daqueles que concordaram fortemente que gostariam de ter notas altas cresceu gradativamente conforme os níveis.

Em outra questão, os alunos responderam o quanto concordavam com a afirmação “eu quero ser o melhor em tudo que eu faço”. O percentual dos que concordaram fortemente com a afirmação foi expressivamente maior entre aqueles de nível mais alto: 49,1% (nível 3 ou 4), 42,9% (nível 2), 38,1% (nível 1), e 31,7% (abaixo de 1).

Alunos com melhor desempenho têm nível socioeconômico maior

A OCDE adota 0 para designar o nível socioeconômico médio dos países da Organização. Assim, alunos com nível socioeconômico acima da OCDE recebem uma pontuação maior que 0, e alunos que estão abaixo da média da OCDE uma pontuação negativa.

No Brasil, o perfil socioeconômico dos alunos com as pontuações mais baixas é bastante baixo, ficando mais de um desvio padrão abaixo da média da OCDE. Já aqueles com nível de proficiência 3 ou 4 são de perfil socioeconômico alto, superando, inclusive, à média da OCDE.

O perfil socioeconômico, no Pisa, é definido pela sigla ESCS (economic, social and cultural status, em inglês). É um indicador derivado de outros três: nível educacional dos pais; ocupação dos pais e posses em casa, incluindo livros e obras de arte.

Outro indicador importante é “homepos”, que congrega a resposta dos alunos sobre se possuem ou não 16 itens em casa, como quarto próprio; ambiente tranquilo para estudar; computador em que possam fazer os trabalhos escolares; conexão com a internet; livros de arte, música, design e de literatura clássica; e dicionário.

É interessante observar que, mesmo os alunos nos níveis mais altos (3 e 4) e com alto perfil socioeconômico, ficam atrás da média da OCDE. Ou seja, não possuem alguns ou muitos desses itens em casa.

Alunos com pior desempenho sentem-se mais sozinhos na escola e percebem baixas expectativas dos professores

 Os estudantes que tiveram pontuações mais baixas em resolução colaborativa de problemas tiveram um percentual mais alto de concordância com a afirmação “sinto-me sozinho na escola” do que aqueles com notas mais altas.

Entre os alunos que estão abaixo do nível 1, 31,2% concordaram ou concordaram fortemente que se sentem sozinhos na escola, contra 14,5% para os alunos que estão nos níveis 3 ou 4.

Os alunos também responderam sobre sua percepção em relação aos professores. Uma questão apresentava a afirmação “os professores me dão a impressão de que pensam que eu sou menos inteligente do que eu realmente sou”, tendo o aluno que escolher entre as opções: “não, ou quase nunca”, “algumas vezes por ano”, “algumas vezes por mês” e “algumas vezes por semana”.

Entre os alunos que estão abaixo do nível 1, 11,8% responderam que algumas vezes por semana os professores dão a impressão de que eles são menos inteligentes. Já o percentual entre aqueles que tiveram desempenho mais alto é significativamente menor: 2,3%, para os alunos que estão nos níveis 3 ou 4.

Ernesto Martins Faria, diretor executivo e fundador do Iede, aponta que é preciso que os gestores escolares e de rede discutam com os professores nos processos formativos o relacionamento deles com os alunos: “Sabe-se que em algumas escolas existem relações conflituosas, devido a aspectos como indisciplina ou pouco suporte que esse professor recebe em relação à formação ou ao trabalho em sala de aula. Mas o objetivo fim dos professores é garantir a aprendizagem dos alunos, e para isso ele precisa ter empatia e sinalizar altas expectativas em relação a eles. Nesse sentido, é importante o gestor escolar discutir isso com ele e ouvi-lo, e não dizer que tem que ser X ou Y, ou que ele pode ou não pode reprovar o aluno”.

Alunos com melhor desempenho dizem que os pais têm interesse nas suas atividades escolares e apoiam seus esforços e conquistas

Muitos estudos apontam a importância do apoio e acompanhamento da família na vida escolar do aluno. No caso de resolução colaborativa de problemas, o percentual dos alunos que concordaram fortemente com a afirmação “meus pais são interessados nas minhas atividades escolares” foi significativamente maior entre aqueles de melhor desempenho. Entre os alunos que estão nos níveis 3 ou 4, ficou em 60,7%. Já no nível abaixo de 1, o percentual foi de 39,4%.

Há uma concordância expressivamente maior também para a frase “meus pais suportam meus esforços educacionais e conquistas”. Entre os alunos que estão nos níveis 3 ou 4, 67,3% dos alunos concordaram fortemente com a afirmação; no nível 2, 60,5%; no nível 1, 51,2%; e no nível abaixo de 1, 40,0%.

Alunos de baixo desempenho repetiram mais vezes e têm menor expectativa acadêmica

Quanto mais baixo o desempenho do aluno, maior foi o percentual dos que repetiram pelo menos um ano no ensino fundamental ou médio. Entre os alunos que estão nos níveis 3 ou 4, 94,8% nunca repetiram; no nível 2, 90,9%; no nível 1, 76,7%; e no nível abaixo de 1, 56,5%.

Chama a atenção que, entre os alunos do nível abaixo de 1, 14,6% disseram que já repetiram duas ou mais vezes o ensino fundamental I; e 36,6% repetiram uma vez essa etapa escolar. Entre os alunos que estão nos níveis 3 ou 4, ninguém repetiu duas ou mais vezes o fundamental I; e somente 0,60% repetiu uma vez.

Em relação às suas expectativas, os alunos responderam também sobre qual nível acadêmico esperam completar: se desejam concluir o ensino fundamental, médio, técnico, graduação ou pós, incluindo mestrado e doutorado.

Nesse item, as diferenças entre os grupos são muito significativas e mostram o quanto os alunos de desempenho mais baixos têm expectativas menores em relação a eles próprios.

Entre os que estão no nível abaixo de 1, 77,5% não esperam chegar ao ensino superior. Do total nesse grupo, 10,7% dizem que esperam completar somente o ensino fundamental; 64,1% o ensino médio ou ensino médio técnico; e 2,7% fazer um curso técnico ou de curta duração após o ensino médio.

Conforme o desempenho em resolução colaborativa de problemas aumenta, a expectativa do aluno de chegar a níveis acadêmicos mais altos também cresce.

Enquanto no nível abaixo de 1, 22,5% têm a ambição de chegar à universidade. No nível 1, esse percentual sobe para 42,3%; no nível 2, 61%; e nos níveis 3 e 4, 69,7%.

Alunos brasileiros, de forma geral, percebem a importância de resolução colaborativa de problemas

Poderia-se supor que alunos com notas mais altas em resolução colaborativa de problemas gostam mais de trabalhar em grupo do que aqueles com notas mais baixas. Não exatamente. Não houve diferenças significativas entre os grupos em relação à preferência por trabalhar em equipe.

Em todos os níveis, mais de 60% dos alunos concordaram ou concordaram fortemente que preferem trabalhar como parte de um time do que sozinhos. O percentual de alunos no nível 2 que concordaram que preferem trabalhar em grupo foi até maior do que nos níveis mais altos: 74,5%, contra 73,1%, para os alunos que estão nos níveis 3 ou 4.

No nível abaixo de 1, o percentual ficou em 62,2%; e no nível 1, 70,5%.

Alunos de todos os níveis, em geral, concordam que equipes tomam melhores decisões e gostam de cooperar com os colegas

Em todos os níveis, mais de 70% dos alunos concordaram ou concordaram fortemente com a afirmação: “Times tomam decisões melhores do que indivíduos”. O mais alto percentual foi registrado no nível 1, com 81,3%.

Independentemente do resultado que obtiveram em resolução colaborativa de problemas, a grande maioria dos alunos também disse que gosta de cooperar com os colegas. No nível abaixo de 1, o percentual foi de 88,5%; no nível 1, 94%; no nível 2, 95,6%; e nos níveis mais altos, 3 e 4, foram, 95,4%.

Sobre o estudo

Com o objetivo de fornecer um panorama da situação do Brasil na competência de resolução colaborativa de problemas, do Pisa 2015, foram tabulados e analisados os resultados por estado, região e gênero. Eles mostram que, caso fossem países, todos os estados brasileiros estariam entre os 10 piores dentre os 50 avaliados pelo Pisa.  Acesse aqui os resultados gerais.

O que o Brasil precisa fazer para melhorar a média em resolução colaborativa de problemas?

De acordo com estudiosos do tema, é preciso ter objetivos claros para as habilidades que serão avaliadas e, principalmente, investir na formação dos professores para trabalharem essa competência na sala de aula. “O currículo deve incorporar, de forma transversal às áreas do conhecimento, a possibilidade de desenvolvimento dessas competências para a resolução colaborativa de probvlemas. No caso dos docentes, é fundamental a mudança de paradigma da sala de aula, incorporando, por exemplo, o conceito de salas invertidas, em que o professor tem o papel de mediador/facilitador, liderando discussões, dinâmicas e atividades em grupos e realizações de projetos. Mas, para tudo isso, é preciso que o professor esteja preparado”, afirma Raquel, que integra a Comissão Assessora de Especialistas para Avaliação de Políticas Educacionais do Inep. Leia aqui a opinião de outros especialistas sobre o que é preciso para o Brasil avançar.

Acesse aqui o estudo “Um Panorama sobre Resolução Colaborativa de Problemas”.