Estudo alerta para a urgência de ações em relação ao ensino de Matemática no País
Documento do Iede, com parceria técnica do IMPA e do Lepes e apoio da B3 Social, traz panorama do ensino e da aprendizagem de Matemática no País e aponta que é raríssimo um estudante de baixo nível socioeconômico (NSE) com aprendizado adequado na disciplina
Não é novidade a dificuldade do Brasil com o ensino e a aprendizagem de Matemática na Educação Básica. Em todas as edições do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de 1990 até 2021, é o menor o índice de alunos com aprendizado adequado na disciplina em relação à Língua Portuguesa. Em 2021, no 3º ano do Ensino Médio, o percentual de estudantes da rede pública com aprendizado adequado em Matemática foi de apenas 5%. Ainda assim, entende-se que a Matemática não tem ganhado a atenção necessária e não ocupa o centro das discussões em Educação da forma devida.
Por essa razão, o Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) decidiu mergulhar em indicadores nacionais e internacionais que ajudassem a compreender melhor a situação do País em relação à disciplina e como os estudantes brasileiros estão em perspectiva internacional. Para isso, contou com o apoio da B3 Social e a parceria técnica do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), responsável pela Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), e do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da FEA-RP/USP (Lepes).
O estudo “O cenário do ensino de matemática no Brasil: o que dizem os indicadores nacionais e internacionais” é o primeiro de três informes sobre o tema — os outros dois estão previstos para serem lançados no primeiro semestre de 2024. Neste, os dados mostram que, em Matemática, estudantes brasileiros de 15-16 anos estão cerca de 3 anos atrás em aprendizagem dos alunos de países desenvolvidos. Além disso, é raríssimo um aluno de baixo nível socioeconômico (NSE) com aprendizado adequado na disciplina: apenas 4,4% conseguem, segundo o Pisa 2018. A análise por níveis indica também que somente 0,1% deles chegam ao nível 4, considerado avançado, da escala do Pisa (que vai até 6).
As desigualdades não são apenas em relação ao nível socioeconômico (NSE) dos estudantes, mas também à sua cor/raça. Mesmo quando são analisados estudantes pertencentes a um mesmo grupo de renda, há diferenças significativas entre eles, com desvantagem para os estudantes pretos. No 5º ano do Ensino Fundamental, por exemplo, enquanto há 67% de estudantes brancos de alto NSE com aprendizado adequado em Matemática (Saeb 2019), entre os pretos, o índice cai para 40,1%. Entre os estudantes de baixo NSE, os percentuais são 41,6% versus 23,9%, respectivamente.
Além de um amplo diagnóstico do cenário do País em relação ao ensino e à aprendizagem de Matemática, o estudo teve como intuito também identificar onde estão localizadas as escolas públicas que se destacam na disciplina. Assim, a partir da análise de dados do Saeb, da OBMEP e das taxas de rendimento das unidades, chegou-se a uma lista de 71 escolas públicas que, em perspectiva nacional, e dado o NSE de seus alunos possuem bons resultados em Matemática nos anos finais do Ensino Fundamental. Com exceção da região Norte, há representantes de todas as demais, mas a maioria está localizada no Nordeste. No Ensino Médio, além dos critérios já citados, considerou-se também o Enem, e chegou-se a uma lista de 80 escolas, com destaque novamente para a região Nordeste.
Verificou-se ainda que as escolas com medalhistas na OBMEP possuem resultados melhores no Saeb e no Enem, em Matemática, quando comparadas àquelas que receberam somente menção honrosa e as não premiadas ou não participantes. Também registram melhores taxas de rendimento (taxa de aprovação maior e menores taxas de reprovação e de abandono); menor distorção idade-série (percentual de alunos com pelo menos dois anos de atraso escolar em relação à série que deveriam cursar); e percentual mais alto de professores com formação adequada. As razões dessas diferenças — se estão relacionadas ao impacto da OBMEP ou se são fruto de outras características dessas escolas — serão exploradas em profundidade nos próximos informes, a serem lançados em 2024. A intenção também é compartilhar boas práticas das escolas de destaque em Matemática, a partir de uma pesquisa em campo, que está em andamento.