Análise sobre a diferença entre brancos, pretos e pardos no Saeb
O Jornal Folha de S. Paulo divulgou ontem, 20 de novembro de 2020, pesquisa do Iede sobre a diferença de resultados de aprendizagem entre brancos, negros e pardos. A pesquisa utilizou-se dos microdados do Saeb — Sistema de Avaliação da Educação Básica — 2017, onde foi possível obter os resultados individuais dos alunos e a cor que eles declararam ter no questionário socioeconômico.
No estudo, foi analisado o desempenho dos estudantes matriculados nas redes de ensino de todo o Brasil, considerando a cor que declararam no questionário do Saeb e o nível socioeconômico a qual pertencem (os alunos foram agrupados em 5 quintis). Comparamos a diferença no desempenho na Nota Padronizada do Saeb entre os estudantes brancos, negros e pardos, de acordo com o seu quintil de nível socioeconômico (NSE). Também estimamos o Ideb, embora nessa análise não diferenciamos as taxas de rendimento (aprovação escolar), utilizando a média oficial para todos os alunos apenas. Os dados para o Brasil podem ser acessados aqui.
Em nossa análise sobre as diferenças entre as médias do Ideb considerando a cor e o nível socioeconômico, observamos que o cálculo do indicador de Ideb que considera apenas os resultados dos alunos pretos no Saeb apresenta o valor mais baixo.
Entre os alunos de menor nível socioeconômico (quintil 1), verificamos nos anos iniciais uma diferença na pontuação média no Ideb de 0,5 entre negros e brancos. Para os anos finais do ensino fundamental, essa diferença é de 0,3 pontos, e no ensino médio a diferença cai para 0.1 pontos no Ideb. Essa diferença se acentua para alunos de níveis socioeconômicos mais altos: nos grupos mais privilegiados, a diferença no Ideb chega a 1.3 pontos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Iede, analisa os resultados:
“O primeiro ponto importante na nossa análise é mostrar que a diferença de desempenho entre pretos e brancos não se deve apenas a questão socioeconômica. O que esses dados sugerem é que outros fatores influenciam o resultado. Um de grande importância é o fato de professores demonstrarem menores expectativas educacionais, em média, em relação aos alunos pretos.”
A análise dos dados revela que os resultados dos estudantes, em média, são menores quanto mais baixos os níveis socioeconômicos onde estão inseridos, porém nessa situação há menor desigualdade entre os resultados de alunos de cores diferentes. Por outro lado, nos níveis mais altos, nota-se elevação de desempenho para os estudantes de todas as cores, mas a diferença entre brancos e pretos é maior.
Os resultados mostram que a) há um grande hiato entre estudantes brancos e pretos e, em menor grau, entre estudantes brancos e pardos em relação ao desempenho escolar, independente da etapa de ensino; e (b) os fatores socioeconômicos acentuam as desigualdades.
Tais dados trazem a importância de formulação e implementação de políticas públicas e escolares, não só para a melhoria do desempenho escolar de uma forma geral, mas também para diminuir o impacto da origem socioeconômica e da cor do aluno no desempenho escolar. “Os professores, em muitos casos, demonstram uma menor expectativa ou dão um menor suporte a determinados alunos devido a um preconceito que trazem previamente, e isso não pode ocorrer. Há um fenômeno perverso que acontece que é a discriminação estatística, que na educação faz muitas vezes a avaliação sobre a aprendizagem de um aluno se basear na média do grupo ao qual pertence. Para combater essa discriminação é necessário que a escola discuta o tema, os professores se auto monitorem e, é fundamental, haver uma proximidade grande entre professores e alunos. Professores terem o papel de tutores de alguns alunos tem se mostrado um caminho em algumas redes de ensino”, pontua Ernesto.