Uma semana histórica para o Inep
Caros leitores, não publico há algum tempo tempo no blog. Peço desculpas, mas é, felizmente, por estar envolvido na área com muitos projetos do qual me orgulho. No entanto, essa é uma semana em que não posso deixar de escrever.
Lembro-me de uma conversa que tive com o professor presidente do Inep Chico Soares há cerca de um ano, quando iríamos conversar sobre ações no âmbito da parceria do Inep com a Fundação Lemann. Há poucos dias haviam sido divulgados os dados do Ideb 2013, divulgação essa que recebeu críticas por não apresentar de forma separada os resultados de língua portuguesa e de matemática na Prova Brasil na planilha de dados do Ideb. O Chico me disse: “eu quero falar não só com o Ernesto da Fundação Lemann, mas quero falar contigo também enquanto formador de opinião. Você sabe de todos os esforços que a gente está fazendo aqui, de que se os dados atrasam é por que estamos trabalhando mais na consistência deles, em indicadores contextuais, então fala isso quando for dar uma entrevista para um jornalista”.
Foi um puxão de orelha que recebi bem, ainda que os problemas daquela divulgação não se limitassem apenas a aspectos técnicos. Não é difícil reconhecer que nossas altas expectativas às vezes nos fazem ressaltar pouco os avanços. O que vale destacar agora, no entanto, é que essa semana, em especial, não é apenas uma semana para lembrar de alguns avanços. É uma semana para celebrarmos feitos históricos que a gestão atual conseguiu implementar.
Ontem, tivemos uma divulgação de dados do Enem por escola com informações para análise muito interessantes: nível socioeconômico, adequação da formação docente e um indicador de permanência na escola. Sobre a divulgação, o ministro Renato Janine Ribeiro disse hoje, aliás, que, apesar do trabalho da equipe do Inep e dos cuidados que buscaram para contextualizar as médias das escolas, já estavam esperando nas manchetes dos jornais de hoje algo como “Inep enrola, mas solta os dados do Enem”. E não veio algo do gênero. Os jornalistas repercutiram de forma positiva a divulgação e os avanços em indicadores contextuais. E não veio algo do gênero não só por mérito do Inep, mas porque a premissa de que o jornalista não quer ouvir ou só quer publicar dados rasos também não é válida. O jornalista, assim como quer vender jornal, também quer essas informações de contexto para conseguir veicular dados que propiciem uma leitura mais adequada. A credibilidade dele é cara para ele.
Hoje, outro feito. Foi lançado o portal Devolutivas Pedagógicas. O portal, uma iniciativa do Inep com parceria do Todos Pela Educação, da Fundação Lemann, da Abave, do Instituto Unibanco e do Itaú BBA, fornece aos professores uma interpretação pedagógica dos itens da Prova Brasil. Para a interpretação da escala Saeb também são apresentadas as habilidades que os alunos dominam, em um passo além do que faziam até então os descritores das avaliações. Essas habilidades, ou sentenças descritoras, especificam para os itens de língua portuguesa, por exemplo, a operação cognitiva (identificar ou recuperar, por exemplo), o objeto de conhecimento (informação explícita, por exemplo), o contexto (o gênero literário, por exemplo) e um indicador de complexidade textual. Isso tudo dá ao professor muito mais concretude do que é a habilidade medida pela item, propiciando a ele, inclusive, a poder fazer seus itens. Isso tudo dá mais norte ao trabalho do professor no desenvolvimento das habilidades de seus alunos.
A divulgação contextualizada de uma avaliação como o Enem, que por tantas vezes já recebeu leitura inadequada dos dados, e um portal que caminha na direção de fazer as avaliações do Saeb contribuírem pedagogicamente de forma efetiva fazem dessa uma semana histórica. Parabéns, Chico Soares, parabéns, Helber Vieira, e parabéns a todos os técnicos do Inep e parceiros que estão contribuindo para que a educação brasileira trilhe um caminho de ações e análises a partir de evidências.