Movimento pela Base: [Análise] A importância das avaliações diagnósticas no retorno às aulas presenciais
Texto publicado originalmente no Movimento pela Base
*Por Ernesto Martins Faria, diretor executivo do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede)
A pandemia de Covid-19 impactou a educação de forma jamais vista na história recente. Em abril de 2020, segundo a Unesco, cerca de 1,5 bilhão de crianças e jovens estavam sem aula por conta do fechamento das escolas, o que representava mais de 90% dos estudantes do mundo. Dentre 35 países analisados, o Brasil foi o que permaneceu por mais tempo com as escolas fechadas no ano passado, considerando a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental. Foram 178 dias, contra 48 dias de média dos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram dados do relatório Education At a Glance 2021.
Neste momento, em outubro de 2021, quase todas as redes de ensino do País já retomaram as aulas presenciais, ainda que com rodízio dos alunos e/ou adotando o sistema híbrido. Agora, é hora de entendermos qual é a real situação de aprendizagem dos estudantes, já que eles não tiveram nem o mesmo acesso e nem o mesmo aproveitamento das atividades remotas. Por isso, é tão importante falarmos sobre a necessidade de realização de avaliações diagnósticas.
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As avaliações diagnósticas são imprescindíveis, no atual contexto, para orientar os educadores sobre quais os conteúdos que os estudantes tiveram mais dificuldade durante a pandemia e que, portanto, devem ser priorizados em sala de aula. Os dados oriundos das avaliações serão essenciais também para guiar os momentos de reforço escolar, sejam eles realizados no contraturno de aulas ou por meio de atividades à distância.
E não é só isso: os resultados das avaliações devem servir também de base para o planejamento pedagógico deste e do ano seguinte. Com base no que os alunos de fato sabem e naquilo que é esperado que dominem, os professores e a coordenação pedagógica devem adequar o currículo para garantir que os estudantes aprendam as habilidades fundamentais para a sua série escolar, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). São as avaliações diagnósticas que vão subsidiar também a formação de professores.
A Secretaria de Educação, por sua vez, pode formular uma avaliação diagnóstica única para a rede de ensino. Caso isso não seja viável, recomenda-se que ao menos a equipe pedagógica da Secretaria tenha acesso às avaliações realizadas por cada escola para que, posteriormente, consiga apoiar as unidades em suas necessidades específicas.
É muito importante ressaltarmos também que as avaliações, neste momento, devem ser utilizadas somente do ponto de vista diagnóstico e formativo, com o objetivo de orientar os professores na sua prática pedagógica. As avaliações somativas, aquelas que, geralmente, são realizadas ao término de uma etapa (bimestre, semestre, ano letivo…) e têm como função verificar se os aprendizados propostos foram adquiridos e como as escolas estão em relação umas às outras, não devem ser o foco agora. As avaliações somativas têm, é claro, o seu valor e, num contexto pré-pandêmico, eram relevantes para indicarem quais escolas estavam obtendo as melhores notas no Saeb e Ideb. Até para que, a partir disso, pudéssemos entender quais eram as boas práticas adotadas por elas e que, eventualmente, poderiam servir de inspiração a outras unidades de ensino em contextos similares, mas com resultados não tão satisfatórios.
No entanto, no pós-pandemia, as avaliações somativas devem ser utilizadas com cautela, pois as dificuldades que as redes passaram foram muito diferentes, o que torna bastante injusto e contraproducente qualquer tipo de comparação entre elas. Os resultados das avaliações não devem ser utilizados, portanto, para a criação de indicadores com objetivos de responsabilização por resultados. O momento é de união e colaboração para que, juntos, possamos superar as dificuldades e garantir a aprendizagem de todos e cada um dos alunos.