Metodologias ativas: 12 estratégias para facilitar o aprendizado dos alunos
Perguntas realizadas pelos próprios estudantes têm potencial para elevar o aprendizado
Por Priscilla Tavares, para a coluna Pesquisa Aplicada, na Nova Escola
No modelo tradicional de ensino, via de regra, a interação do professor com os alunos é do tipo iniciação-resposta-avaliação: o docente direciona uma pergunta a um aluno em particular e posteriormente avalia sua resposta. Um exemplo seria:
– Professor: João, qual é a raiz quadrada de 4?
– João: 3.
– Professor: Quaaaanto?
Esse tipo de interação não promoveria aprendizado por duas razões: a primeira delas é que o diálogo entre professor e aluno não foi motivado por um questionamento genuíno do estudante. A neurociência argumenta que um requisito para o aprendizado efetivo é: aprendemos o que queremos aprender. A pergunta dirigida ao aluno apenas verifica seu conhecimento, mas não inicia uma cadeia autêntica de raciocínio. Perguntas desse tipo são genuínas quando o propósito é avaliar o conteúdo, mas não quando se pretende gerar conhecimento.
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Estudos recentes sobre modelos de aprendizagem ativa investigam quais são as condições que levam a diálogos significativos na sala de aula. Perguntas realizadas pelos próprios estudantes ou questões levantadas pelos professores a partir de dúvidas ou ideias geradas pelos alunos têm potencial para elevar o aprendizado. A diferença para o exemplo dado anteriormente seria:
– João: professor, a raiz quadrada de 4 é 3?
– Professor: vamos pensar juntos. Quanto é 3 vezes 3?
– João: 9.
– Professor: e qual é o número que, multiplicado por ele mesmo, resulta em 4?
– João: 2. Ah, então a raiz quadrada de 4 é 2 e a raiz quadrada de 9 é 3.
Nesse caso, a dúvida do aluno não é respondida prontamente. Ao contrário, a estratégia do professor é “jogar o dado novamente” para conduzir o estudante à conclusão por si só, após raciocínio e reflexão. Embora o exemplo possa parecer simplista e demasiado caricato, ele ilustra uma estratégia de facilitação do aprendizado, chamada de tossing back. Na prática, o caminho percorrido pelo aluno para chegar às respostas corretas pode ser mais longo e exigir que o professor empregue outras técnicas. Apresento abaixo algumas estratégias de facilitação sugeridas por Hmelo-Silver e Barrows (2006) e Zhang et. al. (2010):
- Solicitar ideias para iniciar ou redirecionar a discussão.
- Usar perguntas abertas e meta-cognitivas, que levem os alunos a construir modelos ou mecanismos causais.
- Responder perguntas com outras perguntas, para favorecer raciocínio e reflexão e conexão do novo conhecimento com o já acumulado.
- Estimular que os alunos forneçam explicações detalhadas para afirmações que eles fazem sobre um determinado assunto.
- Pedir que os alunos esclareçam suas ideias quando eles fazem perguntas.
- Legitimar boas ideias trazidas por alunos de baixo rendimento.
- Pedir que os alunos resumam oralmente o que aprenderam na aula.
- Solicitar que pensem sobre os problemas ou questões em pauta, gerando hipóteses alternativas ou modificando elementos.
- Verificar o consenso sobre as ideias apresentadas ao final da discussão e aproveitar lacunas de entendimento para esclarecer conceitos ou conteúdo.
- Encorajar a representação visual das ideias apresentadas (uso do quadro pelos alunos, por exemplo).
- Encorajar e favorecer a contribuição entre os alunos nas explicações dos conceitos e conteúdo.
- Envolver os estudantes que participam pouco e criar um ambiente que os alunos reconheçam como um espaço de aprendizagem e se sintam à vontade para expor suas ideias, mesmo que equivocadas.
Todas essas estratégias trazem uma série de benefícios: engajam o aluno em discussões mais eficazes; permitem a colaboração e o aprendizado entre os pares; estimulam o estudo frequente e contínuo; motivam os estudantes; facilitam a identificação das restrições e necessidades de aprendizagem e das tarefas a serem cumpridas; permitem que o aluno monitore seu progresso etc.
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Essas técnicas de facilitação tiram o estudante do papel de mero espectador e o colocam no centro do seu processo de aprendizado.
Priscilla Albuquerque Tavares é doutora em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Mestre e Bacharel em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). É professora da Escola de Economia de São Paulo, da FGV, pesquisadora na área de Economia da Educação e autora de diversos artigos que avaliam impactos de políticas educacionais no Brasil.
Para saber mais:
Hmelo-Silver, C.; Barrows, H. (2006). Goals and Strategies of a Problem-based Learning Facilitator. Interdisciplinary Journal of Problem Based Learning.
Leary, H.; Walker, A.; Shelton, B.; Harrison Fit, M. (2013). Exploring the Relationships Between Tutor Background, Tutor Training, and Student Learning: A Problem-based Learning Meta-Analysis. Interdisciplinary Journal of Problem Based Learning.
Zhang, M.; Lundeberg, M.; McConnell, T.; Koehler, M.; Eberhardt, J. (2010). Using Questioning to Facilitate Discussion of Science Teaching Problems in Teacher Professional Development. Interdisciplinary Journal of Problem Based Learning.
Este texto foi originalmente publicado na coluna Pesquisa Aplicada, parceria de Iede e Nova Escola