História de Professor: vestida de Princesa, Tânia visitou mais de 120 alunos em um único dia
Professora alfabetizadora de Porto Velho (RO) virou referência na comunidade pelas suas estratégias inovadoras na pandemia. “Montei uma réplica da sala de aula no meu quarto, com cantinho da leitura e tudo”
As crianças da Escola de Educação Infantil Nova República, em Porto Velho (RO), estavam acostumadas a ouvir histórias de contos de fadas: Cinderela, Branca de Neve, Bela, Chapeuzinho Vermelho… Mas nunca passou pela cabeça delas que esses personagens pudessem sair das páginas dos livros e entrarem em sala de aula. Mais do que isso, visitá-las em casa. Não até a professora Tânia fazer isso acontecer.
Filha da dona Sônia e do seu Francisco, Tânia Maria Cordeiro de Alexandria, de 34 anos, atua como professora alfabetizadora há nove anos. Durante a pandemia, suas atividades chamaram a atenção da comunidade local. Com TNT, E.v.a, tecidos e muita criatividade, ela recriou a sala de aula no quarto de sua casa para que os alunos que participavam das aulas online se sentissem mais próximos da escola. “Montei como se fosse uma réplica mesmo, com cantinho da leitura, alfabeto, tapete. Cheguei a ir à escola para pegar o baú de leitura e coisas que levava para lá”, conta. “Um dos sonhos do aluno é conhecer a casa do professor e isso aconteceu com a pandemia”.
A repercussão da sala de aula da professora Tânia foi tão grande que ela concedeu entrevistas a jornais locais e passou a ser procurada por vários educadores do interior de Rondônia e até mesmo de outros estados pedindo a ajuda dela para tornar as próprias aulas remotas mais interessantes.
A partir disso, surgiram outras ideias para prender a atenção dos estudantes, como investir num jeito diferente de contar histórias. Para tornar a atividade mais leve e lúdica, ela se fantasiou de diversas princesas para ler os livros durante as aulas. Pelo quarto dela, passaram a princesa Sofia, a Bela e a Branca de Neve. E não só por lá, não, mas também na casa de cada um dos seus alunos.
Em outubro de 2020, mais especificamente no dia das crianças, a professora resolveu fazer uma surpresa: caracterizou-se da princesa Bela, colocou sua máscara e visitou cada um dos seus alunos nas suas casas. E não foi sozinha não. Com a ajuda de empresários, amigos e da própria família, montou cestas com doces e guloseimas para levar às crianças. Foi um dia e tanto: no total, Bela visitou mais de 120 estudantes, e pode matar um pouquinho da saudade de cada uma deles.
A professora conta que o contexto de pandemia abalou muito os estudantes e suas famílias, assim como os educadores, e exigiu que todo mundo se reinventasse. Por isso, ela pensou em realizar ações como essas para amenizar um pouco da situação. “Costumo trabalhar muita dinâmica, levar a prática para a sala de aula, respeitar a vivência de cada criança. Se já estamos passando por um momento difícil, passarmos atividades vai ficar mais difícil ainda, então parti para a parte da leitura e histórias”, explica ela.
Tânia afirma que luta “por uma educação que acredita no potencial dos seus alunos” e os encorajem a sempre fazerem o melhor. “Minha principal motivação para ser uma professora melhor é poder proporcionar a eles o que eu não tive. Eu tive muito apoio da família, mas teve momentos em que eu fui muito lenta na aprendizagem e era chamada de burra pelos professores”, relembra. “Não quero que as minhas crianças passem pelo o que eu passei”.
Hoje, diz ela, uma de suas maiores alegrias é ver a evolução de seus alunos, quando mostram a ela que conseguiram aprender algo. “Ou então quando falam: ‘tia, sabia que eu quero ser professora que nem a senhora?!’”, orgulha-se.
A quem pensa em ser pedagogo ou educador, Tânia aconselha: “Não se deixe levar pelos comentários ruins, pelos que menosprezam a carreira. Não somos os detentores do saber, mas somos os responsáveis por formar todas as outras profissões. Ser professor é maravilhoso, a gente aprende e conhece muitas pessoas e vidas, e viajamos sem sair do lugar”.