História de professor: Maria Alice, de Goiânia, vai além do conteúdo e tem como objetivo dar perspectiva de vida aos alunos
Quando os estudantes desanimam, Maria Alice se mantém confiante: “Você pode ter desistido de você, mas eu não!”
Você já pensou em estudar em uma escola por anos e depois voltar para a mesma sala de aula como professor ou professora, substituindo o seu professor preferido? Foi exatamente isso que aconteceu com a Maria Alice da Silva Gomes, professora de História, na cidade de Goiânia (GO).
O Centro de Ensino em Período Integral Pedro Gomes faz parte da sua história como aluna e como educadora. A primeira vez que pisou na escola foi em 1983, como estudante no Ensino Médio, época em que conheceu a professora Maria Rita, de História. Maria Alice conta que era fascinada pelas aulas de sua xará e foi então que planejou: assumiria o lugar dela na escola, quando a professora se aposentasse. E, surpreendentemente, isso realmente aconteceu. Em 1994, ela entrou para o quadro de professores da instituição, onde segue até hoje, agora como coordenadora pedagógica. Ela chega às 7h30 e só sai depois das 17h, após um dia cheio de reuniões, atendimentos aos alunos e responsáveis e orientações aos colegas. Desde 2017, ela não atua mais em sala de aula e, apesar de adorar a nova função na coordenação, continua afirmando que nada se compara a ser a e professor. “Transmitir conhecimento e fazer parte do projeto de vida do estudante é muito gratificante”, afirma.
Maria Alice conta que 2020 foi um ano muito desafiador para ela e sua equipe, em diversos sentidos. No âmbito profissional, tiveram que aprender a acolher os alunos sem estar fisicamente próximos, a se fazerem presentes mesmo na distância. “Muitos pais perderam o trabalho com a pandemia, a renda se perdeu, e os estudantes não tinham condições de estar com a gente pela internet. Tínhamos que ficar bem para poder ajudá-los, mostrar que a escola estava ali para acolhê-los”, relata.
Nesses 27 anos em que está no Colégio Pedro Gomes, Maria Alice conta que mudou muito a forma como se relaciona com os estudantes e também como encara a própria prática: “A gente não foca só no ensino. Vamos um pouco além: busco entender um pouco da história de cada estudante. Isso é fundamental, porque preciso saber por que meu aluno tem dificuldade para aprender, por que não vem à escola”. “Eu tive que repensar muito a minha didática. Hoje eu sinto a escola de um jeito diferente. O nosso estudante não é o mesmo. É preciso entender como repassar o conteúdo pensando na diversidade e nas diferenças de aluno para aluno”, completa.
Maria Alice afirma que um dos seus principais objetivos é poder contribuir para a vida de cada aluno e de cada aluna para além da escola. Quando nem eles mesmos acreditam em si próprios, Maria Alice se mantém confiante: “Você pode ter desistido de você, mas eu não!”.
Quando questionada sobre quais projetos mais marcaram a sua carreira, aqueles que ela olha para trás e enche-se de orgulho, ela fala do Jornal Utopia, um informativo escolar escrito pelos alunos, que durou cerca de 5 anos, de 2003 a 2007. Ele foi criado a partir de um trabalho para estudantes do 3º ano do Ensino Médio para que conhecessem melhor o bairro de Campinas, em Goiânia, onde fica o colégio. Mas o projeto cresceu e transpassou os muros da escola: parcerias surgiram e patrocínios vieram. Em suas páginas, a publicação passou a contar histórias não só da escola, como também do bairro, circulou pelo estado de Goiás e foi apresentado em eventos, chegando a ser distribuída até mesmo em universidades. “Hoje, ainda temos edições na biblioteca para que os meninos conheçam o projeto que foi realizado. É importante que a gente não perca de onde viemos, que a gente pense na escola com o bairro, com a vizinhança”, frisa ela.
Os tempos como educadora estão perto de acabar, pois Maria Alice já está quase se aposentando. Mesmo dizendo que sentirá um “aperto de saudade”, considera que a sua missão na educação foi cumprida. “O meu ganho, a minha premiação é ver o estudante antigo reconhecendo que foi meu aluno e concretizando seu projeto de vida. Saio acreditando ainda mais que é possível melhorar a educação”. Para ela, ensinar só o conteúdo nunca bastou. “É preciso contribuir para que o estudante tenha perspectiva”.