História de professor: Lucimar e o delivery da professora Bolonha
Diretor do interior de Goiás reviveu uma antiga personagem para ajudar na busca ativa de alunos durante a pandemia
No interior da cidade de Aparecida de Goiânia (GO), vive uma professora para lá de diferente. Fã da cor vermelha, ela sabe se comunicar como ninguém com os alunos e tem como bordão “Eu não vou perder nenhum de vocês!”. Ela motivava os estudantes a participarem do Enem, quando as aulas eram presenciais, mas, com a pandemia, precisou tomar medidas drásticas: ir à casa dos alunos para que eles não abandonassem a escola. Foi então que surgiu o “delivery da professora Bolonha”. Ela tornou-se a protagonista de um programa de entrega de conteúdos escolares no Centro De Ensino Em Período Integral Estadual Santa Luzia. A partir de um monitoramento, foram listados alunos com menos de 70% de presença nas atividades remotas e de entrega de atividades. Eles foram escolhidos, então, para receber a visita da professora Bolonha, que chegava em suas casas com sua forma delicada e discreta “como um rinoceronte” — como gostam de dizer — com uma grande caixa de som para descontrair, provocar risadas e chamar a atenção deles e de suas famílias sobre a importância de continuarem conectados com a escola, entregando os conteúdo.
O sucesso foi grande. Em 2020, apenas 1% dos alunos (2, no total) não conseguiram estar nas aulas devido à depressão, mas, em 2021,já estão em sala de aula novamente. A professora Bolonha é uma personagem interpretada pelo diretor da escola, o professor Lucimar Alves Menezes. Formado em Artes Visuais e apaixonado pela área, o educador traz um pouco da sua criatividade e bom humor — apesar da expressão séria — para tornar a busca ativa de alunos durante a pandemia mais descontraída. “A professora Bolonha é uma mistura da minha irmã Luci, da minha professora Antônia, que me inspirou bastante, da professora Cida, e de outras professoras que eu conheci. Além, claro, do meu lado artístico, hiperativo, agitado que as pessoas não conseguem acompanhar”, conta ele.
O professor Lucimar viveu ele próprio na pele a situação da evasão. Quando estudante, precisou deixar a escola duas vezes por questões financeiras e por não conseguir conciliar o emprego com os estudos. Hoje, quer que seus alunos tenham melhores oportunidades. “Não conhecemos nossos alunos a fundo, mesmo tendo a prática de aplicar questionário socioeconômico e cultural aqui na escola. É muito importante nos aprofundarmos e entendermos o que está acontecendo com a vida de cada um. Muitos alunos precisam trabalhar. E só conhecendo cada um, vamos conseguir ajudá-los”, afirma.
E foi pensando em se aproximar dos estudantes que ele ajudou a consolidar alguns projetos na escola. Além do delivery da professora Bolonha, também criou um programa de atividades na escola aos sábados e um grupo de street dance. O “Mais Educa sábado” ocorreu de 2013 a 2018, antes do colégio tornar-se integral e envolveu outros colégios, , que engajaram os alunos em campeonatos de esporte, grupos de dança, desenho e pintura. Já o grupo de dança, chamado Lockers, durou de 2012 até 2015.
O educador está sempre pensando no que pode ser feito para reduzir as desigualdades que existem na educação. “Eu sinto a necessidade de me tornar cada vez melhor, para poder proporcionar a eles coisas melhores, para que eles tenham melhores oportunidades, se sintam capazes, que consigam chegar mais longe”, conta. Por isso, ele acredita que os jovens precisam de mais mentores, pessoas que os inspirem para os estudos e o papel do professor é importantíssimo nesse processo: “A questão do sonho está se perdendo um pouco na escola. Precisamos de líderes que digam que podemos sonhar, que podemos realizar, para que os alunos possam ir mais além, para que não desistam e não parem de sonhar”.
Lucimar diz que tem cerca de 95 mil filhos. Esse é o número aproximado de estudantes que já passaram pela sua vida. Quando ele recebe a visita daqueles que já saíram da escola e que estão realizados profissionalmente, o sentimento é de dever cumprido. A realização do outro, para ele, é o maior presente que a educação pode lhe proporcionar: “É gratificante saber que estamos conseguindo criar pontes para que esses alunos possam atravessar as suas barreiras, enquanto cidadãos, e construírem uma sociedade melhor”.