Brasil fica entre os últimos em prova internacional de alfabetização com 65 países
Dados do Pirls, de 2021, reforçam cenário de dificuldade de alunos brasileiros com leitura e forte desigualdade
Por Paulo Saldaña – 16.mai.2023
BRASÍLIA
O Brasil ficou à frente de apenas cinco países em uma avaliação internacional de alfabetização aplicada em 2021 a estudantes de 65 países e regiões. Os dados do Pirls (sigla em inglês para Progress in International Reading Literacy Study) foram divulgados nesta terça-feira (16).
Foi a primeira vez que o país participou da avaliação, realizada pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), uma cooperativa de instituições de pesquisa, órgãos governamentais e especialistas dedicada à realização de estudos e pesquisas educacionais.
A inclusão do Brasil no Pirls foi uma iniciativa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No Pirls, os alunos brasileiros obtiveram uma média de 419 pontos. Esse desempenho fica acima apenas de Jordânia, Egito, Marrocos e África do Sul, este último com uma média de 288 pontos. É similar, por outro lado, ao resultado de Kosovo e Irã. Já países como Azerbaijão e Uzbequistão conseguiram resultados melhores que os do Brasil.
Entre esses países, há uma ponderação na comparação com os dados do Marrocos porque foram coletados com os alunos já no início do 5º ano. Nenhum outro país da América Latina participou da avaliação.
Os melhores desempenhos foram aferidos em Singapura (587), Irlanda (577) e Hong Kong (573).
No Brasil, uma amostra de 4.941 estudantes do 4º do ano do ensino fundamental fez a prova. Por ter sido realizada em 2021, reflete impactos da pandemia de Covid-19 e do consequente fechamento de escolas.
Dados da avaliação federal, o Saeb, do mesmo ano, haviam mostrado prejuízos do período nos resultados de aprendizagem dos estudantes de todas as etapas da educação básica, sobretudo entre os mais novos.
A pontuação média alcançada pelos alunos brasileiros localiza o país no nível baixo da escala de proficiência do Pirls. Quase 4 em cada 10 estudantes brasileiros não dominavam as habilidades mais básicas de leitura —não sabiam, por exemplo, recuperar e reproduzir um pedaço de informação explicitamente declarada no texto.
O economista especializado em educação Ernesto Faria, diretor do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), explica que o Pirls, com amostra da avaliação representativa do país, tem grande importância por preencher lacuna de comparações internacionais com relação aos anos iniciais do ensino fundamental. Os únicos dados sobre desempenho educacional comparativos com outros países é o Pisa, que testa jovens na faixa dos 15 anos.
“A gente não tinha um diagnóstico comparativo dos anos iniciais do fundamental [1º a 5º ano], e os dados do Ideb [indicador de qualidade da educação básica] indicam uma certa evolução nessa etapa nos últimos anos. Claro que tem o contexto de pandemia, mas o que se vê é que não estamos indo bem”, diz. “Há muitos desafios também nos anos iniciais e os dados trazem um choque de realidade.”