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Contribuições ao Debate - Nova Escola 14/06/2018

Coluna Pesquisa Aplicada, na Nova Escola: Finlândia e Estônia também enfrentam desigualdades na Educação

Nações que são referência em avanços educacionais ainda não conseguem garantir condições equânimes para todos, mas apontam caminhos

Por: Ernesto Faria, para a Nova Escola

Nessa segunda-feira, dia 11 de junho, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os relatórios Effective Teachers Policies: Insights from Pisa e Teachers in Ibero-America: Insights from Pisa and Talis, que trazem diversos pontos interessantes sobre gestão e políticas docentes, entre outros aspectos. Para esse texto, em especial, quero destacar o grande desafio dos países no enfrentamento de desigualdades educacionais.

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Para vários indicadores a OCDE fez análises de acordo com o nível socioeconômico dos alunos e, na grande maioria delas, se percebe que muitos países oferecem piores condições para os alunos de mais baixo nível socioeconômico. Isso vale para o Brasil, mas também para sistemas educacionais com ótimos resultados. A Figura 1 mostra, por exemplo, que assim como o Brasil, as cinco nações com melhores resultados no Pisa 2015 em ciências apresentam mais escassez de professores nas escolas que atendem alunos de nível socioeconômico mais baixo.

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Figura 1: Escassez de professores: diferença entre escolas de alto e baixo nível socioeconômico em relação ao percentual de alunos que tem seu aprendizado dificuldade por esse problema, de acordo com os diretores

A Finlândia, por exemplo, tem importantes dificuldades na região rural da Finlândia Ocidental. Um a cada quatro diretores de escola dessa região aponta que o aprendizado foi dificultado pela escassez de professores, problema que praticamente não existe nas cidades de Tampere ou Helsinki. Trata-se de uma área rural com baixa densidade demográfica, problemas que muitas áreas rurais do Brasil conhecem bem. Para dar um outro exemplo, a Estônia tem dificuldade de garantir bons resultados entre os alunos russos (parte expressiva do corpo discente), que apresentam consistentemente resultados inferiores. O que podemos, então, aprender com esses dados?

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Em ambos os exemplos, estamos falando de países muito menores que o Brasil e que, por questões históricas e culturais, têm desafios menores na promoção de uma cultura de altas expectativas em educação. Mas, mesmo assim, eles apresentam desafios. E, dada a complexidade do Brasil, principalmente do ponto de vista socioeconômico, precisamos saber que, de partida, independentemente de nossas políticas educacionais, nossos desafios serão maiores.

Aproveitando a abertura da Copa, comparar sem contextualizar o nosso sistema educacional e o deles é como comparar clubes de futebol europeus ricos com estádios e estruturas impecáveis, com clubes brasileiros com folha salarial menor, dívidas, pior estrutura e salários atrasados. Então, a primeira lição que podemos tirar com esses dados é: o contexto influencia no quão desafiador é ter sucesso em educação, e mesmo países com menor complexidade têm desafios. Nenhum sistema educacional é perfeito.

A segunda lição, e talvez a mais importante, é que os países com sistemas educacionais de referência percebem esses desafios e é pauta combatê-los.

Em entrevista realizada pelo Iede e pela Nova Escola, o pesquisador finlandês Jaakko Kauko abordou a priorização que a Finlândia deu à educação, que suscitou em reformas curriculares e diversas ações para dar mais suporte às escolas que atendem alunos de baixa renda.

Lá, um aluno que nasce na área rural da Finlândia Ocidental vai ter maiores desafios, mas há um caminho traçado para combater isso. A Finlândia tem programas para oferecer mais recursos para áreas rurais e o investimento por aluno considera a questão da densidade populacional da área local. Ao passo que ainda há um desafio na área rural da Finlândia Ocidental, poucos diretores das outras áreas rurais do país apontaram escassez de professores como um problema. Nenhum na região Sul e na região de Helsinki!

Já a questão da Estônia é mais complexa. Os pais russos escolhem colocar os filhos em escolas em que as aulas são em russo ao passo que há um ambiente de protecionismo à língua estoniana no período recente, com uma redução de escolas bilíngues e até mesmo de escolas que oferecem o idioma russo. Os russos, que representam cerca de 25% da população estoniana, enfrentam desvantagens no sistema educacional. No entanto, embora ainda há questões a serem resolvidas, esses temas são recorrentes em debates, inclusive nas eleições presidenciais. São tópicos discutidos e defendidos por grupos locais organizados.

E o Brasil? Fazendo um paralelo com a Finlândia, o que tem sido feito para combater nossas desigualdades internas? Não estaria na hora de considerar mais critérios regionais, socioeconômicos e de localização na distribuição de recursos financeiros em educação? Fazendo um paralelo com a Estônia, quem está defendendo de forma organizada melhores condições e mais recursos educacionais para alunos do Norte e Nordeste, por exemplo? Precisamos urgentemente de um projeto de nação contra as desigualdades que afligem o nosso sistema educacional.

Ernesto Martins Faria é diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e doutorando em Organização do Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores na Universidade de Coimbra.

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