Aulas de Ciências: como os modelos didáticos ajudam no aprendizado
Modelos funcionam como uma ferramenta de mediação e investigação que trazem dinamismo às aulas, dizem especialistas
Por Sheila Alves, para a coluna Pesquisa Aplicada, parceria de Iede e Nova Escola
Em algumas aulas de Ciências, os modelos didáticos são usados para que os estudantes realizem observações e “descubram” uma verdade científica. Depois dessa tarefa, eles são convidados a voltar à “realidade” e responder extensas listas de questionários. As aulas de Ciências, nesse caso, estão centradas nos conceitos, tendo o livro didático como grande referência. Em geral, o modelo serve de figuração para aulas expositivas de um conteúdo que é apresentado em fragmentos aos alunos.
Essa tendência nasce de uma concepção positivista, na qual a Ciência é uma coleção de fatos objetivos que podem ser extraídos diretamente da observação dos fatos e fenômenos. Isso ocorre porque muitos professores e alunos confundem os modelos com a realidade que eles representam. A consequência disso para o ensino são modelos que não servem como mediação para auxiliar a discussão de ideias científicas.
Aprender Ciência em uma perspectiva de produção e discussão dos modelos é, portanto, um exercício de comparar e diferenciar modelos, e não de adquirir saberes absolutos e verdadeiros (POZO, CRESPO, 2009). De acordo com Pietrocola (2002), o objetivo da Ciência é encontrar explicação para fatos reais a partir daquilo que se percebe ou se supõe existir, e para isso pode-se utilizar a construção de modelos como mecanismo para se gerar um modelo teórico. Assim, acredita-se que os modelos são ferramentas didáticas capazes de sustentar a mediação entre ensino e aprendizagem, além de tornar as aulas de Ciências e Biologia mais dinâmicas.
Justi (2006) também defende a ideia que os modelos funcionam como uma ferramenta de mediação e investigação. Ela mostra ainda que o aprendizado está relacionado na construção do modelo e na sua utilização, considerando, então, que a teoria e a aprendizagem não se desvinculam do processo de produção. Essa autora defende a construção de modelos em sala de aula para que os estudantes sejam capazes de desenvolver diferentes formas de pensar. Para a autora, a construção de modelos promove não só o desenvolvimento de conhecimentos específicos, mas também proporcionam o conhecimento sobre o processo de construção da Ciência. Além disso, relacionam o desenvolvimento de habilidades que surgem ao mobilizar princípios da Ciência e o uso de suas práticas, fundamentais para o desenvolvimento desse processo.
Dessa forma, os modelos não se constituem como “penduricalhos” para tornar a aprendizagem e o ensino mais agradável. Aulas que oportunizam a construção de modelos podem e devem ser carregadas de conteúdos de aprendizagem, integrados aos chamados conteúdos formais.
A construção de modelos nas aulas de Ciências pelos estudantes permite que se observem imagens e possam chegar a conclusão de que a própria imagem retirada de um livro é uma reprodução distorcida ou sintetizada do objeto representado. Ao construir as peças, o professor deve ficar atento para algumas características dos modelos, tais como o tamanho, peso e quantidade de peças. É possível trabalhar com metodologias variadas, visto que, se for muito grande, o modelo deverá ter um lugar específico, se for pesado não poderá ser movimentado constantemente e, se forem poucas unidades, o professor deve se certificar que todos os alunos tiveram contato com o material. Além do peso, a cor e a textura do material são questões que passaram a ser consideradas relevantes para os alunos. É preciso que o professor tenha claro os objetivos de trabalhar com as peças sintéticas, pois elas podem ser usadas antes de uma aula expositiva, como forma de sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos, dialogando com o conteúdo para que ocorram aulas mais interativas e dinâmicas.
A construção de detalhes na peça terá uma importância ainda maior para os alunos com deficiência, que dependem de outras metodologias para aprender. Os detalhes em alto relevo é que farão a diferença para que possam perceber as limitações e contornos da peça. A produção e uso dos modelos em sala de aula permitem que múltiplas habilidades possam ser desenvolvidas. Ao refletir sobre todos esses processos de ensino e aprendizagem, construímos uma cultura docente que pensa sobre o seu ser e o fazer pedagógico.
Sheila Alves de Almeida é doutora em ensino de Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e por 15 anos atuou como professora de ensino fundamental em Belo Horizonte.
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