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Esta página traz livretos, análises e artigos sobre o desempenho dos estudantes brasileiros no Saeb, no Ideb, no Pisa e no Pirls, além de dados do Indicador de Permanência Escolar, criado pelo Iede para mensurar o total de crianças e jovens que abandonam a escola sem ter concluído a Educação Básica.

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Contribuições ao Debate - Agência Brasil 16/06/2018

Cai percentual de estudantes que querem ser professores, diz OCDE

Por Mariana Tokarnia, da Agência Brasil 

Gina Vieira Ponte tinha 8 anos quando decidiu o que queria ser quando crescesse: professora. Foi pelo cuidado e atenção dados a ela, criança negra vítima de racismo na escola, pela professora Creusa Pereira, que Gina decidiu: queria também dar atenção e, quem sabe mudar a vida de crianças e adolescentes. Hoje, professora premiada e reconhecida em todo o país, ela faz parte de uma categoria profissional cada vez menor. Relatório divulgado esta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que a porcentagem de estudantes que querem ser professores passou de 5,5% em 2006 para 4,2% em 2015.

O relatório Políticas Eficazes para Professores é baseado nas respostas de estudantes de 15 anos no questionário do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação da qual participaram 70 países. No Brasil, de acordo com o questionário do último Pisa, em 2015, a porcentagem dos que esperam ser professores é ainda menor que a média dos países da OCDE, 2,4%. Os números excluem aqueles que querem ser professores universitários e considera apenas os que desejam ser mestres em escolas do ensino básico e médio.

“Vivemos em um país que representações sobre o que é ser professor são muito ruins. É muito recorrente que se replique casos de professores agredidos, de enfrentamento com alunos, com pais. Tem greve de professores, que precisam se organizar para garantir melhores salários. O aluno, dentro da escola, percebe o quão desafiador é para o professor realizar o trabalho dele”, diz Gina.

Após atuar como professora por 27 anos em escolas públicas, Gina hoje trabalha com formação de professores no Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação, da Secretaria de Educação do Distrito Federal. A educadora ganhou diversos prêmios pelo projeto Mulheres Inspiradoras, que busca incentivar a leitura de obras literárias escritas por mulheres e sobre mulheres.

Segundo Gina, o que a move é o contato com crianças e adolescentes. “Aprendo muito, me sinto renovada”, diz. Mas, com muitos professores, também passou por momentos difíceis e precisou reduzir o tempo em sala de aula. “Adoeci porque vi que os estudantes não se engajavam. Temos um modelo educacional esgotado, que não dialoga com a especificidade de uma geração de nativos digitais”.

Como formadora de professores, ela busca sempre levar o questionamento: “O que estou fazendo faz sentido? O que estou propondo gera engajamento, envolvimento?”

Carreira não atrai os melhores

O relatório mostra ainda que os estudantes que escolhem ser mestres têm, em geral médias menores no Pisa que os estudantes que escolhem outras carreiras formais como cientistas, engenheiros, profissionais da saúde, cientistas sociais, entre outras.

Segundo a OCDE, a diferença é maior entre países com pior desempenho no Pisa. O Brasil está entre eles. Dentre os 70 países, ficou 63ª posição em ciências; a 59ª posição em leitura e a 65ª posição em matemática – competências avaliadas no Pisa.

Enquanto os estudantes que querem ser professores no Brasil tiraram em média 354 pontos em matemática e 382 em leitura, aqueles que querem seguir outras profissões formais ficaram em média com 390 em matemática e 427 em leitura. De acordo com os critérios da OCDE, de 30 a 40 pontos no Pisa equivalem a um ano de estudos. Isso significa que os estudantes que querem ser professores estão cerca de um ano atrás dos demais.

Segundo o diretor do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria, o que mostra a atratividade da carreira docente é “se os melhores alunos querem ser professores, se consegue atrair os alunos de alto índice de proficiência. Se um aluno que pode entrar em qualquer faculdade, diz que espera ser professor, então isso significa que deve haver valorização da sociedade por essa carreira”, ressalta. “O Brasil precisa pensar em como tornar a carreira docente mais atrativa. Ter mecanismos de atração sem desvalorizar os professores que já estão atuando”, acrescenta.

O problema não está restrito ao Brasil. As maiores diferenças de desempenho em matemática foram observadas na Bulgária, Geórgia, em Israel, na Letônia, no Líbano, Peru, em Portugal, na Turquia, nos Emirados Árabes Unidos e no Uruguai. Nesses países, os estudantes que querem ser professores tiraram pelo menos 40 pontos a menos que os demais que desejam seguir carreiras formais.

Na outra ponta, no Japão e na Coreia do Sul, estudantes que querem ser professores tiveram desempenho melhor em matemática que os demais e não houve diferença significativa entre os grupos em leitura. Na Áustria e and Eslovênia, estudantes que querem ser professores tiveram melhor desempenho em leitura e não houve diferença significativa em matemática.

Professores desvalorizados

O relatório da OCDE, mostra também que o salário é uma das principais causas que levam os estudantes a não se interessar pela carreira de professor. “Em países onde os salários dos professores é mais alto, estudantes de 15 anos tendem a desejar mais seguir a profissão. O mesmo ocorre em países onde os professores acreditam que a profissão é valorizada pela sociedade”, diz o texto.

Em média, entre os países da OCDE, o salário dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, com formação superior, é o equivalente a 81% dos salários de outros profissionais com o mesmo nível de formação. Entre os professores do 6º ao 9º ano, o salário equivale a 85% e, entre os do ensino médio, a 89%, dos salários das demais carreiras.

No Brasil, professores de escolas públicas ganham, em média, 74,8% do que ganham profissionais assalariados de outras áreas, ou seja, cerca de 25% a menos, de acordo com o relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação (PNE), do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Essa porcentagem era, em 2012, 65,2%.

“Acho que é consenso de todos os lados, de todos os campos políticos, que política educacional é caminho para o desenvolvimento do país”, diz o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo. “A educação muda a vida da pessoa e, para ter educação de qualidade, tem que ter pessoas animadas com autoestima elevada, com alegria e disposição para fazer o trabalho no dia a dia”.

A OCDE recomenda que os governantes “considerem melhorias nas condições de trabalho dos professores para tornar a carreira mais atrativa para os melhores estudantes. Ao mesmo tempo, poderiam aumentar o nível de autonomia e responsabilidade, as oportunidades de crescimento intelectual e possibilidades de progressão de carreira que agradem os professores”.

Acesse o texto na Agência Brasil