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Contribuições ao Debate - Nova Escola 09/05/2019

Entenda por que a tecnologia pode ajudar na aprendizagem

Saiba o que é carga cognitiva natural, intrínseca e extrínseca e como podem garantir uma aprendizagem melhor

Por Silvio Henrique Fiscarelli, para a coluna Pesquisa Aplicada, parceria de Iede e Nova Escola

A Teoria da Carga Cognitiva, de John Sweller, parte do princípio que possuímos capacidade limitada de processar muitas informações simultaneamente. Assim, quando somos obrigados a lidar com um grande número de informações ao mesmo tempo, existe a chance de sofremos os efeitos de uma sobrecarga cognitiva e, consequentemente, não conseguirmos realizar a atividade de maneira satisfatória.

Os efeitos da sobrecarga cognitiva podem nos levar a esquecer, confundir e desprezar informações, ou até mesmo, perder a concentração e cometer erros durante a realização de atividades cotidianas. Embora alguns autores, como George Armitage Miller, tenham tentado estimar qual seria a capacidade máxima de informações que o nosso cérebro consegue gerir simultaneamente, essas estimativas não são precisas, pois, além de depender da familiaridade do sujeito com a atividade que está sendo realizada, tal capacidade pode ser diferente em cada pessoa.

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Do ponto de vista educacional, Sweller afirma que a aprendizagem ocorre de forma adequada se as informações estiverem em consonância com a capacidade cognitiva do sujeito, ou seja, quando o volume e a qualidade das informações apresentadas aos alunos forem compatíveis com as suas capacidades de gerenciá-las e manipulá-las. Ainda segundo o autor, existem três tipos de cargas cognitivas envolvidas na aprendizagem: a carga cognitiva natural, formada pelos processos mentais necessários para que a aprendizagem aconteça; a carga cognitiva intrínseca, que é ocasionada pela complexidade do conteúdo educacional; e a carga cognitiva extrínseca, gerada durante a apresentação e aquisição desses conteúdos.

Quando um conteúdo pode ser desmembrado em vários tópicos, que podem ser apreendidos separadamente, considera-se que sua carga cognitiva intrínseca é baixa. Isso porque os tópicos podem ser tratados em etapas e hierarquizados de maneira a facilitar a compreensão. Por outro lado, se há muitos tópicos e eles estão relacionados entre si de forma complexa, a carga cognitiva intrínseca pode ser considerada alta.

Já a carga cognitiva extrínseca depende do modo como as informações são apresentadas, isto é, dos meios de comunicação, dos recursos e das representações utilizadas. Quando a apresentação de um conteúdo escolar é precária, padronizada e feita de uma única forma os alunos podem ter maior dificuldade para compreendê-lo, e a carga cognitiva extrínseca pode ser considerada elevada. Já quando a apresentação está bem estruturada, é diferenciada e conta com múltiplos recursos a carga cognitiva tende a ser minimizada.

Assim, partindo do princípio que nossa capacidade de processar informações é limitada, devemos buscar priorizar a carga natural, gerir a carga intrínseca e minimizar a carga extrínseca. Parece complicado, não? Mas, em outras palavras, isso quer dizer que, durante o processo de aprendizagem, devemos direcionar as ações e processamentos mentais para os elementos que são essenciais na construção do conhecimento, otimizar as formas de aquisição das informações e controlar a extensão do conteúdo tratado.

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Neste contexto, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) podem auxiliar no processo de minimizar a carga cognitiva dos conteúdos escolares. Segundo Gavriel Salomon, um dos diferenciais das novas mídias está justamente no modo como estruturam e apresentam os conteúdos. Como exemplo, o autor aponta um estudo que comparou um grupo de crianças que assistiram a um vídeo de uma história com outro grupo em que as crianças apenas ouviram a descrição verbal desta mesma história. A conclusão da pesquisa apontou melhores resultados na capacidade de recuperar informações no primeiro grupo.

De acordo com o autor, o resultado da pesquisa indica que a representação visual é mais próxima à representação interna das crianças, parecendo-se mais com a “vida real” e exigindo, por isso mesmo, menor trabalho de recodificação. As características presentes no vídeo, tais como a representação dos personagens, as cores, os movimentos e as falas eram significativos para elas e não exigiam grandes esforços para integração das informações aos esquemas mentais. Do outro lado, a história lida exigia um maior esforço imaginativo. Cabe aqui ressaltar que não estou dizendo que um recurso é melhor do que outro, ou que um deve ser substituído pelo outro, mas sim que eles podem ser complementares. Segundo Richard Clark e Terrance Craig, quando duas ou mais mídias são usadas adequadamente, elas contribuem para uma melhor retenção da informação do que quando uma só é utilizada. Há indícios que os benefícios das mídias na aprendizagem são aditivos, somam-se, uma vez que os resultados são superiores à soma de cada um dos constituintes individualmente.

Em síntese, podemos dizer que os sistemas simbólicos utilizados pela tecnologia afetam a aquisição do conhecimento de diferentes modos. Não só pelos modos diversificados que seus sistemas simbólicos podem representar o conhecimento, mas também pela forma com que substituem ou alteram as atividades mentais. Neste sentido, podemos considerar que as TICs possuem características que ajudam a diminuir a carga cognitiva extrínseca durante a aprendizagem. Ao criarem esquemas mentais mais coerentes e compatíveis com as experiências e conhecimentos prévios dos alunos, as TICs podem ajudá-los a poupar recursos cognitivos que seriam consumidos no esforço para aprender e não na aprendizagem em si.

Silvio Henrique Fiscarelli é mestre e doutor em Educação Escolar pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (Unesp) e professor na mesma instituição

Para saber mais

CLARK, Richard & CRAIG, Terrance (1992). Research and Theory on multi-media learning effects. In Max Giardina (ed.), Berlin: Springer-Verlag, 19-30

SALOMON, Gavriel (1994). Interaction of Media, Cognition, and Learning. Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.

MERINGOFF, L. (1978). A Story: the influence of the medium on children’s apprehension of stories. Unpublished doctoral dissertation, Harvard University

Miller, G. A. (1956). The magical number seven, plus or minus two: Some limits on our capacity for processing information. Psychological Review, 62, 81-97.

Sweller, J. (2004). Instructional design consequences of an analogy between evolution by natural selection and human cognitive architecture. Instructional Science32, 9–31.

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